quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Odeere conclui curso de extensão indígena na comunidade Tupinambá

Katu pituna! Esta é a forma como os indígenas Tupinambás das aldeias de Olivença (Ilhéus) desejam “boa noite”.
A etnia Tupinambá foi dada como extinta desde o século XVII, o processo de colonização e a disputa de terra pelos coronéis contribuíram para a dispersão e negação da identidade por essa população. A partir de 2002 os Tupinambás foram reconhecidos pela Funai, pesquisas apontam 3.700 índios cadastrados e residindo em 23 aldeias na região de Olivença.
Aula de campo da Extensão do Odeere/Uesb,
com o Prof. Atã na Aldeia Gwarini Taba Atã 
Entre os dias 5 a 8/02, o Órgão de Educação e Relações Étnicas (Odeere/Uesb) esteve participando de uma pesquisa de campo (turma 2014) na comunidade Tupinambá. A proposta faz parte do curso de extensão em Educação e Culturas Indígenas, que o Odeere oferece desde 2013. Nosso objetivo é qualificar professores da educação básica e fundamental, bem como estudantes e pesquisadores que se interessam pela discussão da Lei n.º 11.645/2008.
A legislação citada torna obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena na educação pública e privada. Abordar esse conteúdo curricular é importante para o resgate histórico-cultural. E também minimizar os impactos sofridos pelas populações afro-descentes e indígenas ao longo da história brasileira.
Em Jequié já não há remanescentes indígenas... Nossos estudos apontam que a situação indígena na Bahia tem sido preocupante, devido à disputa de terras pelos fazendeiros e interessados no comércio imobiliário. De acordo com o Prof. Katu Tupinambá (ministrante do curso de extensão) esses conflitos são intensos na região de Olivença. O índio Tupinambá não luta pelo valor econômico da terra, mas pela legitimidade de garantir seu território e identidade construída nesses espaços.
Nossa visita a esses espaços foi enriquecedora. Coordenadores e alunos da extensão visitaram os marcos históricos e as aldeias com os professores Katu, Atã e comunidade indígena. Abrimos a aula de campo na Praia do Cururupe, onde ocorreu o massacre indígena (1959) e a resistência mediada pelo Caboclo Marcelino. Visitamos a Igreja das Escadas, local de educação jesuíta, onde ainda acontecem as tradições culturais indígenas.
Depois das rodas de conversas e da aula teoria conceitual, com os professores Tupinambás, no Centro Cultural de Olivença, fomos à aldeia Gwarini Taba Atã. Fechamos as atividades do dia com a trilha e visita de reconhecimento da aldeia e população. Também não faltou um tipo de bebida indígena, à base de mandioca, conhecida como “Giroba”. À noite participamos do Porancy - ritual numa das comunidades à beira mar, marcado pela dança típica e roda de conversa.
As apresentações culturais renovaram nossas energias para o dia seguinte. Os alunos visitaram a aldeia Itapoãn da Cacique Valdelice. Também apresentaram suas conclusões sobre a realidade indígena durante aula, que aconteceu no Colégio Indígena Tupinambá, retomada. As apresentações contribuirão para conhecermos a proposta pedagógica da escola. Sobretudo, porque motivou os cursistas na construção de estratégias destinadas à docência do currículo indígena nas escolas ondem atuam.
Verificamos que as comunidades Tupinambás são carentes de atenção do governo e da sociedade, principalmente no que se refere ao respeito e acesso aos direitos garantidos por lei. Sobrevivem da pesca, agricultura familiar e venda de artesanatos. Preservam uma cultura tradicional, que é repassada pelos mais velhos. Com a criação da Lei 11.645 novas portas se abrem para a expansão dessas comunidades. Inclusive pela contribuição de vários indígenas que concluem cursos superiores e aplicam seus conhecimentos nas aldeias.
O Odeere da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb) acredita na importância das propostas de extensão, pois visam aproximar os docentes da realidade indígena. O amparo jurídico é imprescindível nessa discussão. Entretanto, sem estudo voltado ao contato com a realidade dessas populações torna-se difícil construirmos uma educação inclusiva, que contemple a luta pela dignidade do índio.
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Cursistas da Extensão em Educação e Cultura Indígena
Parque do Centro Cultural de Olivença - Ilhéus

Prof. Katu Tupinambá abrindo a aula de campo às margens do
Rio Currurupe, onde ocorreu o massacre indígena de 1959

Indígenas e cursistas participam do ritual Porancy - Olivença